TEMPO DA QUARESMA: Graça, conversão e reconciliação
Com a Quarta-feira de Cinzas, iniciaremos o Tempo de Quaresma. Termina a festa da carne para começar a festa da misericórdia. Terminam os festejos das fantasias e das aparências para começar a festa do perdão e da reconciliação. No inicio da Quaresma, recebemos na fronte uma cruz, feitas com as Cinzas obtidas da incineração das palmas do Domingo de Ramos do ano anterior, em sinal de que aceitamos e queremos fazer uma caminhada de purificação, de arrependimento, de conversão espiritual e recolhimento em oração e penitência.
Nos primeiros tempos do cristianismo, surgiu um período destinado a preparar os fiéis para a Páscoa. No início, esse período era de apenas um dia. Com o passar do tempo, foi se prolongando, até chegar à duração de 40 (quarenta) dias; daí a palavra QUARESMA, do latim quadragésima.
O número 40, está presente em várias passagens da Sagrada Escritura, como no dilúvio que inundou a terra (Gn 7,12); nos 40 anos, que o povo judeu andou pelo deserto (Dt 8,2); quando Ezequiel ficou deitado sobre o próprio lado direito (Ez 4,6); nos 40 dias que Moisés jejuou no monte Sinai (Ex 24,18); no tempo que Elias andou pelo deserto até o monte Horeb (1Reis 19,8) e, finalmente nos 40 dias e 40 noites que o próprio Jesus rezou e jejuou no deserto (Mt 4,2).
O período da Quaresma tem inicio na Quarta-feira de Cinzas e término no Domingo de Ramos. Oração, penitência, jejum e esmola são meios para se alcançar os objetivos da Quaresma. Também é tempo de conceder e pedir perdão; de fazer o bem a todos; buscar o Sacramento da Reconciliação; a oração em família; a leitura da Bíblia; partilhar a fé e mudança de vida e de atitude.
A Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira da Paixão do Senhor são os dois dias que a Igreja torna obrigatórios o jejum e abstinência. Mas que a motivação não seja a dieta, não seja para economizar. Só terá sentido e lógica se isso for revertido em ajuda aos menos favorecidos e, como domínio das vontades e instintos, na plena consciência de que Deus é maior que nossas paixões, prazeres e vícios.
Há várias formas de jejum de alimentos prescrito pela Igreja:
. pão e água.
. à base de líquidos: chás, vitaminas, laticínios.
. abster-se de uma das refeições. Escolhendo uma das refeições para não ser feita e comendo com moderação as outras duas.
. jejum completo, quando só é permitido água durante o dia.
Podemos, também, praticar o jejum da violência das palavras, dos gestos e atitudes, jejum da maledicência, o jejum da fofoca, o jejum da preguiça e da comodidade e com essa prática, cultivar a paciência, a mansidão a misericórdia e a caridade.
A abstinência consiste em deixar de comer carnes de qualquer tipo, podendo fazer uso de ovos e laticínios. A prática da abstinência é a penitência como expressão de livre esforço no seguimento a Jesus Cristo.
A cor litúrgica utilizada no tempo da Quaresma é o roxo, simbolizando penitência.
No Brasil, desde 1963, no período da Quaresma, é realizada a Campanha da Fraternidade, com o objetivo de “despertar a solidariedade dos seus fiéis e da sociedade em relação a um problema concreto que envolve a sociedade brasileira, buscando caminhos de solução”, coordenada pela conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. A cada ano é escolhido o tema e o lema que buscam, na prática, viver a caridade, aprofundar a fraternidade e desenvolver gestos concretos de conversão.
Este ano, o tema da campanha é: “FRATERNIDADE E EDUCAÇÃO”.
Jamais devemos considerar a Quaresma como um fardo pesado, mas sim como escreve São Paulo, na Segunda Carta aos Coríntios: no momento favorável, Deus ouviu-nos e, no dia da salvação, Ele nos socorreu. É agora o momento, é agora do dia da salvação (2Cor 6,2).
Deus quer se reconciliar conosco, porque Ele nos amou primeiro. Se alguém virou as costas, fomos nós, não Ele! O esforço da Quaresma é deixar-se tocar por Deus, deixando-se envolver por Sua misericórdia. Por isso, não sejamos indiferentes, permitindo que Deus, em Seu Espírito, nos provoque. Por isso, sugiro que, se não tem o costume de cumprir o preceito da missa dominical, você deve fazer no período quaresmal um propósito de não faltar às missas. Cada domingo da Quaresma é uma provocação à conversão. Eis o tempo que Deus nos favorece.
Finalizo este artigo citando São Leão Magno (?-461): “Tempo de Quaresma é tempo de viver a doçura, a humildade, a paciência e a paz”. Acima de tudo, é tempo de perdoar as injustiças, as afrontas e de esquecer as injúrias. Especialmente, é tempo de combate espiritual, de jejum medicinal e de caridade reconciliadora.