DO ESTUDO DAS SAGRADAS ESCRITURAS
Neste mês de Setembro, a Bíblia tem um destaque especial. As sagradas Escrituras também pedem licença para entrar em nossas casas e comunidades no passo e no compasso de sua proposta de santificação para judeus; salvação para cristãos; libertação para todos. A palavra nos exorta, corrige, anima e ilumina. Aprendemos tanto da leitura, da meditação, da contemplação, da oração que fazemos tendo a Palavra de Deus como alicerce de nossas vidas! É na escuta do querer de Deus que aprendemos que a felicidade e a sabedoria crescem por dentro. Não adianta buscar fora de nós aquilo que cresce a partir de dentro.
As Sagradas Escrituras são aquelas que, produzidas pelos cultivadores da fé católica, a autoridade da Igreja universal recebeu, contando-as no número de seus livros divinos para a fortificação de sua própria fé, e conservou para serem lidas. A Bíblia levou anos para ser escrita. Antes, porém, ela foi vivida. São mais de dois mil anos de história em 73 livros. E ainda existem também outros numerosos opúsculos escritos por homens religiosos e sábios em outras épocas, a Apócrifa, composta de 140 outros livros que não foram considerados inspirados, oficiais, mas que refletem o pensamento, ora aberrante, ora complementar, ora alternativo em relação ao pensamento hegemônico (Cf. FARIA, Jacir de Freitas. Apócrifos aberrantes, complementares e cristianismos alternativos: poder e heresias! 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2009.) daqueles que também escreveram a história da salvação. Nem todas as escrituras que falam sobre Deus ou sobre os bens invisíveis devem ser chamados de divinas, e nem somente a elas se deve dar este nome, alguns escritos, são como uma parede de barro caiada, adornam-se exteriormente com o esplendor da eloquência, e, se às vezes nos fornecem alguma verdade, ela vem misturada em falsidades, como se encobrissem com alguma cor a lama do erro. Pelo contrário, a eloquência divina é mui apropriadamente comparada ao favo, que aparenta ser árido por causa da simplicidade do discurso, mas por dentro está pleno de doçura. Donde se constata o motivo de estas escrituras terem recebido com razão o nome de “sagradas”: somente elas se encontram livres do contágio da mentira, posto que dão prova de não conter nada contrário à verdade.
Algumas pessoas se perguntam: “Como estudar a Bíblia?” Outros afirmam: “Já li toda a Bíblia e não entendi muita coisa”. Lê-la como um livro não é o melhor caminho. Não é conveniente também aproveitar-se da Palavra de Deus de forma mágica e aleatória. Ela não é amuleto e nem solução imediata para todos os problemas da vida. E necessário a inteligência da fé, primeiro precisa florescer o amor. De todas as coisas, a primeira que de deve saber é que há quatros modos de compreender a Sagrada Escritura, isto é, o histórico, o alegórico, o tropológico e o anagógico. Há alegoria, quando por um fato é indicado o outro, em que se há de crer. Há tropologia quando, pelo que foi feito, dá-se a entender outra coisa, que deve ser feita. Há anagogia, que é como a condução para cima, quando se dá a entender o que se deve desejar, isto é, a felicidade dos Santos. E assim com a leitura e o estudo constante, de modo crítico, ecumênico, orante e pastoral, esse livro passa a ser o nosso lar. Outro detalhe importante: a Bíblia deve ser sempre lida em sintonia com a vida de hoje. Devemos partir de nossa realidade e iluminá-la pela realidade, descrita nas Sagradas Escrituras, perguntando sempre pela experiência de Deus refletida naquele contexto.
A Bíblia conta histórias que, se não soubermos ler ou interpretar, acabam se tornando contos da carochinha. Se os tomarmos ao pé da letra e não entendermos o sentido de cada um deles, acabaremos lendo de modo equivocado. E assim, fazer uma interpretação fundamentalista da Palavra de Deus. Qualquer proposta nesse sentido é um desastre para a fé e para a vida. Hugo de São Vítor vai nos dizer que existe três tipos de pessoas que lêem a Sagrada Escritura, dos quais o primeiro deve ser lastimado, o segundo, ajudado e o terceiro, louvado. Nós, por queremos consolar a todos, certamente desejamos desenvolver em todos o que é bom e corrigir o que é perverso. A nossa vontade é que todos entendam o que dizemos, que todos façam o que exortamos. Ninguém tem o direito de projetar-se na Palavra e nem de fazê-la dizer o que ela não diz. Interpretar qualquer versículo da Escritura Sagrada sem conhecimento do texto e do contexto pode levar a afirmações absurdas e errôneas. Será um desastre utilizar-se da Palavra de Deus para justificar posicionamentos contrários ao que o próprio Deus nos propõe.
Tomemos cuidado para não seguirmos a cabeça de só um pregador. Ele não é a Bíblia e não sabe tudo sobre ela e menos ainda sobre a vontade de Deus para uma comunidade. Nunca saberá. Os que seguem apenas um “explicador de Bíblia” correm o risco de aprenderem tudo do jeito dele, mas não do jeito do céu. Por esse motivo, é fundamental que os cristãos estudem, leiam e escutem mais opiniões. Por isso, existe uma sabedoria chamada exegese, a ser feita por muitos estudiosos e não apenas por um líder e fundador de alguma coisa.
Ele pode ser ótimo, mas não sabe tudo. Cuidado com seu pregador preferido, ele pode não ser o mais instruído. Ouça outros que talvez sejam menos carismáticos e menos doces e queridos, mas que sabem muito mais. Podem não contar nem falar bonito, mas sabem mais histórias e teologia. É o que tenho dito a quem diz que gosta de ouvir minhas homilias. Apresso-me a indicar padres mais profundos que eu. E não é humildade: é realismo. Não deixem de ler os documentos da Igreja, os livros do papa e de excelentes pensadores católicos. É assim que se faz uma Igreja pensante!